Apresentação

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O projeto

Baiano pra Mamulengo concentra três anos (2009-2012) de vivências, investigações e trabalhos realizados diretamente com a fonte popular, entre o meio urbano e o interior do Brasil. O projeto visa à montagem de um espetáculo para teatro e rua, concebido a partir do diálogo existente entre o brinquedo do mestre mamulengueiro Zé de Vina e outros brinquedos de sua região (Zona da Mata - PE). Tais diálogos foram identificados num longo e atento convívio com o Mestre Zé de Vina, como também por encontros e vivências feitas em sua região com outros folguedos, ligados direta ou indiretamente ao seu brinquedo.

Encontro entre o Cavalo Marinho e o Mamulengo no Sítio Arrombado
(Agosto de 1999) - Foto: Clara Abreu

Concebido por Joaley de Almeida e assistido por Andressa Ferreira, dois integrantes do grupo Forrolengo, o Baiano pra Mamulengo busca também vivenciar e registrar os folguedos e trabalhar sua própria linguagem popular, focando no Mamulengo, Cavalo Marinho, Boi de Cortejo, Ciranda, Coco de Roda, Reisados e outros brinquedos, buscado as junções entre signos da cultura popular e a contemporaneidade. Com a pesquisa conceitual e o processo criativo, o projeto promove troca de saberes e experimentações estéticas a partir de elementos das manifestações populares tradicionais brasileiras, entendendo-as como um devir criativo do que simplesmente uma tradição estática.


Em que acreditamos

Acreditamos na atualidade da tradição popular por esta ter chegado viva até aqui, tendo ela muito a ensinar e agregar às artes ditas contemporâneas. Nessa filosofia de interação entre a linguagem dos diversos brinquedos, trabalhada e recriada pelo grupo, o projeto Baiano pra Mamulengo também tem como objetivo ajudar a desfazer a visão sacralizada sobre os elementos da tradição, reforçando a liberdade de composição e organicidade, em um território aberto a diálogos.

Em idas e voltas à fonte popular, acreditamos que o contato direto com os mestres e os brinquedos é a parte mais importante do nosso trabalho. Só uma pessoa que vive no brinquedo pode, verdadeiramente, demonstrar a riqueza de sua essência. Essa premissa faz com que o grupo invista em sua formação, aproximando-se do trabalho dos mestres, apoiando-os e entendendo-os, promovendo a absorção dos princípios da tradição popular em sua autêntica forma de transmissão: a oral.


Vivência ou pesquisa?

Em primeiro, vem a vivência pessoal, com pessoas do povo e seus saberes. Em segundo, cresce o amor e a observação mais aguçada sobre essa sabedoria, onde percebemos que o valor sobre o simples é muito maior que qualquer complexidade artística. Essa simplicidade gera vida e um novo pensamento sobre ela, outra forma de ter atenção, de aprender e de colocar o próprio corpo no mundo. A partir daí, não há mais diferença entre o que é vivência, pesquisa ou registro, sentimos vontade de estar com a câmera para registrar o momento e também de deixá-la de lado e aprender a loa, o passo e o bordado, assim como tantas vezes fizemos.


Através dessas vivências, o grupo formado no projeto Baiano pra Mamulengo trabalha para desenvolver diversas habilidades manuais e corporais, além do convívio com as estruturas de Cavalos Marinhos, Maracatus Rurais, Reisados e Bois de Cortejo, que é a aplicação prática da pesquisa de investigação sobre o “Diálogo entre Brinquedos” do mestre Zé de Vina. Todas as atividades são registradas em audiovisual e resultarão em um documentário. 


Como transformar um ensaio num ritual divertido e concentrado, mesmo repetindo-o? Como fazer com que o elenco se aprofunde, busque, interrogue maneiras de evoluir como brincante e demonstre orgulho por isso? 

 Interrogações do Diário de Viagem
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